domingo, 20 de março de 2011

Chato ou Culto?!



Esses dias ouvi de alguém que eu era chata...Mas não uma chata do tipo comum, mas uma chata ‘culturalmente’ falando. Pensei ‘meu Deus, onde estamos?!’ Desde quando ter cultura é ser CHATO?!
Parei pra pensar a respeito e tentar entender o lado da outra pessoa. Entender porque alguém acha que é ruim gostar de coisas sofisticadas ou de boa música, bons filmes, etc.
No começo achei complicado, eu sempre gostei de MPB, um exemplo do que seria ‘chatice’, desde que me conheço por gente! Sempre ouvi Chico Buarque, Caetano Veloso, Vinicius de Moraes. Talvez influência de casa, pois meus pais apesar de pessoas simples, sempre gostaram de coisas boas, minha mãe me levava ao cinema e meu pai que mal tem a 4ª série adora música clássica! Então, de onde vem esse meu lado “culto”?!
Fiquei uns dois dias refletindo e acho que encontrei a resposta! Primeiro de tudo, é algo meu mesmo, da minha personalidade. Sou muito eclética e adoro muitas coisas, das mais simples às mais sofisticadas. Mas, o que me influenciou mesmo e talvez tenha sido um fenômeno cultural que engloba todos da minha faixa etária e os mais velhos, é que na minha época de infância, quando meus gostos estavam se formando se via, ouvia e se tinha muito contato com coisas boas, como MPB, música clássica, bons filmes e programas culturais em geral. Tínhamos acesso fácil a tudo isso na TV aberta, pois na época nem havia a tal TV a cabo. Era tudo de graça, pela TV de casa mesmo e em preto e branco (detalhe!). Programas infantis passavam de tempos em tempos, com músicas de cantores de renome e compositores ilustres, como Chico Buarque e Vinicius de Moraes (A arca de Noé, Plunct-Plact-Zum, Balão Mágico, entre outros).
Bons filmes passavam tanto na sessão da tarde como nas noites de sábado (E o vento levou..., Casablanca, Star Wars, etc.). Programação especial no Natal, Roberto Carlos já fazia sucesso naquela época também, mas era BEM melhor! Programas culturais passavam aos domingos na TV Globo, como “Concertos para a juventude” e “Som Brasil”, onde a música sertaneja tinha qualidade, bem diferente do lixo comercial que somos obrigados a ouvir hoje.
No rádio, o que se ouvia também era bem diferente: Caetano Veloso, Gilberto Gil e Moraes Moreira, figurinhas comuns no rádio. Se quiser ouvi-los hoje em dia, procure rádios especializadas em MBP, que muitos desconhecem ou acham CHATOS! Enfim, eram outros tempos, uma época que era bombardeada por cultura em larga escala e que fez uma geração extremamente culta e sofisticada! Que conhece as boas coisas que o Brasil tem a oferecer e não sente vergonha de dizer, se for preciso, SIM eu sou um chato!  
A única coisa que realmente me incomoda nisso tudo é o fato de que as pessoas encaram como um defeito, uma coisa ruim ao invés de achar bom e tentar aproveitar do conhecimento cultural das pessoas. Ao invés de procurar conhecer mais e tentar desenvolver esse lado, preferem tripudiar e fazer piadinhas. Mas, infelizmente essa é a realidade de uma geração que veio depois da minha. A geração Xuxa, É o Tchan e Faustão, sertanejo universitário (aliás, quem deu esse título mesmo?!?!) e as demais porcarias espalhadas pela nova TV aberta, rádios populares, Big Brother Brasil, etc. já que com a TV a cabo a programação de qualidade ficou limitada a quem pode pagar.
Foi uma triste conclusão, mas como disse antes o que mais me assusta não é o fato de as pessoas não terem mais contato com a cultura como eu tive na minha época de infância e adolescência, mas no fato de que as pessoas se acomodam a conhecer apenas o que é mostrado e limitado a porcarias comerciais que não tem nem mesmo bom senso para tentar aprender, conhecer ou buscar ser mais culto e acham que quem é, como foi meu caso, merece ser rotulado e virar motivo de piadas.
Graças a Deus eu nasci em 1973 e pude viver numa época em que coisas maravilhosas eram comuns e pude conhecer tudo isso e apreciá-las. Hoje posso dizer com orgulho e sem nenhuma modéstia que sou sim uma pessoa CULTA!  

Por Luciane de Quadros

4 comentários:

  1. Sua chata!!! Culturalmente falando... hehehe. Também tenho uma angústia parecida: você já se pegou tentando explicar algo que não é lógico e as mentes atuais, da realidade virtual, da informação que cabe em apenas 140 caracteres, por não conseguirem absorver o conteúdo abstraem, pra não dizer se desinteressam? As pessoas pararam de contextualizar as situações e, sem isso, não vêem um universo mais amplo que o do eu. Se, por um lado, isso eleva a auto-estima, por outro individualiza tudo ao extremo e o senso de coletividade se perde... e leva junto a noção de responsabilidade social também. Viajei! Mas sua "chatice" me fez elocubrar... hehehe. E isso nem é conversa de boteco... hehehe. Bjos e boa semana! Continue "chateando" :-)

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  2. Eu também sinto muito orgulho de ter nascido nos anos 70. De ter assistido a primeira versão do Sítio do Pica Pau Amarelo, e o primeiro programa do Balão Mágico.
    Hoje em dia eu tenho vergonha de assistir TV com minha mãe, com cenas tão picantes, em horários tão impróprios.

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  3. Genteee eu sou da Geração Xuxa!!

    Realmente, você disse tudo com muita classe!!
    Mas acalme-se, julgar sem conhecer é uma característica típica do ser humano!
    Ao menos hoje podemos desabafar na internet, pra quem quiser ver, e quem sabe aprender um pouco mais!!

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  4. A geração a qual vc pertence de fato não importa! O que importa é o que vc faz com o conhecimento que pode adquirir com as pessoas ao seu redor...tirar proveito de td conhecimento possível...seja na área da cultura, música, cinema, arte ou educação! O importante é saber aproveitar das experiências de quem já viveu mais que vc...e crescer com isso! =D

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